12 de novembro de 2013

Séc. XIX - A Grande Exposição & o Movimento de Artes e Ofícios

A GRANDE EXPOSIÇÃO

Contexto Histórico e A Grande Exposição

        No século XIX a Grã Bretanha e a França competiram pelo domínio industrial e comercial. A Rainha Vitória tinha ampliado o poder e a riqueza do Império Britânico, tinham conhecimento, tecnologia e poder. Mas havia uma coisa que eles não tinham: a beleza do design francês. A França se encontrava debilitada pelas guerras e intrigas napoleônicas e as constantes revoltas revolucionárias, ainda assim as Academias Reais continuaram a formar artistas e artesãos com a mesma exigência e as Manufaturas Reais continuaram a produzir peças de design de grande valor estético. Em 1830 existiam 80 academias de arte na França.
        Os ingleses preocupados com a liderança estética e cultural francesa investiram em academias para artesãos, mas os formavam separados dos artistas, como os alemães, que contavam com escolas de formação artesanal gratuita para a classe operária. Os ingleses e alemães tinham então uma formação técnica enquanto os franceses tinham uma formação artística. 
        Neste espírito competitivo os ingleses organizaram em 1851 a primeira Exposição Universal chamada "A Grande Exposição dos Trabalhos da Indústria das Nações do Mundo". Por primeira vez artistas, arquitetos, cientistas e comerciantes exibiram, discutiram e promoveram seus produtos. A Grande Exposição Universal de Londres foi um marco histórico para o design porque reunia em um só lugar todas os conhecimentos que no século XX deram origem a primeira escola de design. Para albergar os expositores Joseph Paxton desenhou o Palácio de Cristal. O edifício, feito com estruturas pré-moldadas de ferro e de vidro, foi uma das maiores obras arquitetônicas da história não só pela grande beleza das suas formas e da sua transparência, mas porque constituía maior revolução arquitetônico desde Roma.


The Great Exhibition of The Works of Industry of All Nations, Hide Park - 1851

        As estruturas de ferro possibilitaram grandes construções que fossem leves e que inclusive pudessem ser montadas e desmontadas. O ferro das máquinas se espalhou nas obras arquitetônicas e na vida urbana da Europa do século XIX.



Gravura anônima da parte interna da Grande Exposição de Londres

        O Palácio de Cristal foi desmontado depois da exposição, mas uma outra obra grandiosa da era do ferro ficou: a Torre Eiffel, de Alexandre Gustave Eiffel foi erigida com uma estrutura de ferro pré-moldado como foi o Palácio de Cristal de Londres para marcar em 1889 a 8ª Exposição Universal em Paris. A torre devia ser desmontada depois da exposição, mas permanece até hoje como símbolo da modernidade.



Palácio de Cristal

        Foram 9 exposições universais no século XIX, 12 no século XX e 4 neste século. A história do design se configurou a partir deste intercambio internacional e interdisciplinar.



MOVIMENTO DE ARTES E OFÍCIOS
Arts & Crafts

A Era Vitoriana


A Rainha Vitória (1837-1907) da Grã Bretanha marcou uma era muito importante para a cultura inglesa: a Era Vitoriana. No seu reinado as artes, as ciências e a tecnologia foram desenvolvidas em um espaço de tensão entre a tradição do passado e a modernidade. O estilo vitoriano, do qual os ingleses se orgulharam, se estendia aos objetos, móveis, roupa, tecidos, gráfica, arte, arquitetura, paisagismo e design de interiores. Sua influência chegou a muitos outros continentes e durou mais de um século.
O pensamento de John Ruskin (1819-1900), crítico de arte e medievalista, as obras de A.W. Pugin (1812-1852) arquiteto e designer e de William Morris (1834-1896) tiveram uma grande influência sobre o design vitoriano. Todos eles proclamaram a importância da relação entre arquitetura e design que existia na cultura clássica greco-romana e medieval. Este saudosismo de tempos passados, era parte da cultura romântica da época, mas também revelava o medo do presente e do futuro cada vez mais tomado pelas máquinas de ferro.
  A sociedade industrial era orgulhosa do progresso material que trazia a Revolução Industrial. Mas muitos pensavam que este progresso material deixava de lado as preocupações espirituais e que assim ameaçava o tecido social. Ruskin encontrava na arte a possibilidade de devolver o equilíbrio entre o progresso material e espiritual. Ele escreveu muitos livros de história e crítica de arte que o gosto vitoriano encontrava moralmente edificante. Estes livros instruíram á classe média britânica na ideia da arte como reflexo das condições morais de uma sociedade: "o sinal visível da virtude nacional".(EFLAND, A., 1990).


  Ruskin via a arte como a imitação da natureza, além disto devia proporcionar também prazer. Mas aquilo que tornava um objeto em uma obra de arte era o propósito moral: a maior quantidade de grandes ideias. Para Ruskin as obras de arte são encontros com as grandes ideias. Por causa disto ele defendia a importância de viver em ambientes altamente estéticos.

Sala medieval organizada por A.W. Pugin, Exposição Universal de 1851, Londres
O arquiteto Pugin levou as ideias de Ruskin ao plano do design. Como Ruskin, Pugin propunha um design baseado na utopia regressiva do retorno à beleza da natureza, em oposição ás novas tendências que exaltavam a beleza das máquinas. Eles sentiam aversão pelas tendências arquitetônicas marcadas pelo Palácio de Cristal.  Para Ruskin e Pugin a beleza devia expressar uma função social: "só pode ser belo aquilo que é bom", esta era uma ideia medieval que explicava a beleza como a materialização do bem. (ECO, U.2007)
  Nas artes, o movimento Pré-rafaelistas, que tentava retornar a simplicidade e sinceridade da arte foi o que melhor representou a estética e moral vitoriana.   
  O gosto vitoriano cresceu no coração da burguesia britânica do século XIX. Na arquitetura, na decoração, no paisagismo e nas artes gráficas e nos objetos predominaram as formas orgânicas estilizadas de linhas marcadas e os arabescos com decoração austera e volumes geométricos.

O Movimento de Artes e Ofícios



Design de um livro - William Morris


          Assim como para Ruskin e Pugin, para William Morris o retorno ao sistema dos grêmios da Idade Média e o retorno à vida em contato com a natureza eram as únicas saídas da alienação das metrópoles, da fria e artificiosa beleza do ferro, da produção industrial em série e da miséria causada pela exploração e pelo trabalho mecanizado das fábricas (ECO, 2007).
Movido por estas ideias iniciou o movimento Arts and Crafts (Artes e Ofícios) e fundou em 1861 junto ao arquiteto Philiph Webb e outros associados, um estúdio de design com o propósito de restabelecer os laços entre o trabalho belo e o trabalhador e voltar a honestidade do design que a produção em massa negava. O estúdio de Morris e Webb ficou conhecido pela ideia da casa como uma obra de arte total, com todos os objetos desenhados pelos arquitetos e realizados por artesãos experientes usando métodos tradicionais e se inspirando na natureza.
O design do movimento Arts and Crafts se caracterizou pela:
·         Simplicidade vs. complexidade no ornamento
·         Sistema de grêmios vs. sistema industrial
·         Acabado artesanal vs. acabado industrial

A missão social do movimento era dar solução aos males da Revolução Industrial: melhorar a qualidade de vida dos trabalhadores, levar a cultura a todos e restabelecer a união das artes e os ofícios perdida desde o Renascimento.
  Todas as peças feitas nos estúdios do Arts and Crafts seguiam os princípios estabelecidos por Morris:
·         Considerar o material (qualidade e nobreza)
·         Considerar o uso (função)
·         Considerar a construção (design)
·         Considerar a ferramenta (técnica)

O movimento Arts and Crafts de Morris teve o apoio da monarquia vitoriana e teve grande sucesso entre a burguesia rica. A marca registrada da oficina de Morris e arquitetos era a alta qualidade artesanal dos produtos. Isto encarecia muito os objetos frente àqueles que produziam as fábricas. O sonho de Morris de oferecer ambientes e objetos altamente estéticos a todos não era possível. Só os ricos podiam comprá-los. Mas o gosto pelos objetos Arts and Crafts cresceu e se estendeu na Alemanha e nos Estados Unidos onde se publicaram revistas especializadas que atingiam um grande público feminino.


Design de interiores 1884 para a revista Arts and Crafts de Munich, Alemanha

As ideias do movimento Arts and Crafts, os ventos românticos e a veloz modernização da Europa no final do século XIX inspiraram na França um movimento ainda maior e mais abrangente.

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Referências Bibliográficas:


ARGAN, Giulio Carlo. Historia da Arte Moderna, do Iluminismo aos Movimentos Contemporâneos. Companhia das Letras, São Paulo, 1992.
EFLAND, D. Arhur. A History of Art Education. New York: Teachers College Press, Columbia University. 1990. 
BÜRDEK, Bernhard E.. Design: história, teoria e prática do design de produtos. São Paulo: Edgar Blücher, 1º Edição, 2006.

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Autores: 
- Allan Douglas, Amanda Adna, Andreia Caroline, Géssica Fernanda
- Glaucia, Mônica Santos, Ninna Nunes, Lucas

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